quinta-feira, 29 de novembro de 2007

abandono

Digo que não pense em mim, que não me procure,
que me deixe tentar fechar essa ferida que já se abriu.
Mas eu perco pra mim mesma.
Eu ligo, eu penso desesperadamente,
eu lambo essa ferida como se fosse a única dor de infinito prazer.
Porque a dor se chama você.
É uma dor de cabelos negros,
é uma dor cujo corpo já foi meu na intensa entrega do sentimento.
A dor que eu tenho tem dois dedos do pé, grudadinhos
e gargalha bem alto quando eu faço piadas sem graça.
Minha angústia é você.
É você o anjo que esqueceu de ser puro,
que desceu pra cá com desejo e sentimento
e capacidade de sentir na carne que os anjos não têm,
essa dor também,
a nossa dor.
E eu te entendo, mas te quero.
O querer tira a sua razão em me deixar,
o querer me faz ter medo e lhe deixar.
Mas eu lhe quis desde que seu corpo me apareceu crescido
e desde que você me apareceu ouvindo Chico,
não tenho pernas para sair de nós.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

As aparências enganam

Perto de onde trabalhavam operários de uma pequena cidade, morava alguém incomum. Uma mulher de meia idade, cabelos branqueando e velhos colares. Ela não era incomum por ter algum tipo de atitude decente que a fizesse diferente dos demais idiotas da redondeza. O que a fazia ser lembrada era sua mão esquerda, com apenas três dedos - seu vizinho, o pai de todos e o fura bolo - cujas unhas pintadas de esmalte prateado faziam com que ela lembrasse do triste episódio que a marcaria para sempre.
A estranha mulher fora atacada por uma cobra que tinha pernas. A cobra com pernas abocanhou seus dois dedos - o mindinho e o mata piolho - e isso fez da quase velha, uma pessoa amarga e rejeitada. Suas unhas, da mão direita estavam sempre incolores e feias, já que com apenas os três dedos - seu vizinho, o pai de todos e o fura bolo - ela não conseguia pintar de prateado as unhas. Portanto apenas os três dedos da mão esquerda tinham as unhas prateadas. Até que um gato persa apareceu em sua porta, lhe dando a atenção que ninguém dava, tudo por conta dos dois dedos - o mindinho e o mata piolho - que a cobra de duas pernas havia comido. E o gato persa lhe pintava as unhas de todos os dedos e as unhas reluziam um prata vivo, alegre... até que um dia... ao tirar o esmalte da mão com os cinco dedos, a mão direita, o gato inalou acetona e morreu, chapado, locasso. A velha ficou outra vez com cinco unhas incolores e apenas três dedos da mão esquerda com as unhas prateadas.
Já não havia mais razão para viver. Tomada pela raiva e a rejeição do mundo, a mulher de meia idade, além de ter dois dedos da mão esquerda comidos por uma cobra de duas pernas, decepou seu seio direito e passou a freqüentar um bar da cidade, onde bebia e fumava sem parar.
Um dia, chegou no bar um homem que não era como todos os babacas que sempre estavam lá ignorando aquela amargurada mulher. E ela se apaixonou, ele a amou e os dois foram felizes, mesmo ela tendo apenas três dedos na mão esquerda, com as unhas prateadas e os outros cinco dedos da mão direita, incolores e um seio decepado. Isso tudo porque o universo conspira. Os dois partilhavam da mesma dor, já que ele, o cara que não era babaca, teve o pênis abocanhado, também pela cobra de duas pernas.
Com o passar de algum tempo, o jovem senhor sem pênis descobre a veracidade do velho ditado: as aparências enganam. Sendo feia, a velha era rejeitada. Mas, não era rejeitada apenas porque era feia. Seu humor era tenebroso. Vingativa, ciumenta, manipuladora. Já não bastava a cobra ter-lhe comido o falo, agora a mulher queria arracar-lhe os bagos?
Fez-se impor: colocou veneno na comida dela, com o dinheiro que ela deixou fez um implante de pênis e casou com uma menina novinha, que pinta as unhas de rosa-claro.

Stella, Lari, Mathe, Indi e Fabi
Autores reunidos jamais serão vencidos pela lucidez deste mundo real sem graça alguma.

sábado, 27 de outubro de 2007

Bienvenidos




Desde sempre, o Paraguai é um país atrativo. O comércio de importados e outras quinquilharias sempre levou Brasileiros a cruzarem a fronteira brasileira Foz do Iguaçu, no Paraná, com a de Ciudad del Leste. Isso é tão tradicional quanto encontrar o litoral de Santa Catarina invadido por hermanos paraguaios, argentinos e outros latino-americanos. Assim como também vão a Argentina, através de Barracão ou mesmo Foz, brasileiros ávidos pela boa cerveja argentina engarrafadas em litros, o doce de leite, os torrones, os alfajores, os enlatados, os tecidos e é claro, o cassino.
Mas o Paraguai vai muito além deste turismo consumista. É na Ponte da Amizade que cruzam os mais fascinantes profissionais do comércio. Logo que chegamos, cedinho numa manhã de sexta-feira, o movimento já era significante. O calor ainda não tinha mostrado suas chamas e o aspecto, visto do começo da ponte ainda não era a realidade que se encontra lá dentro.
Motocicletas velhas, carros sujos, bicicletas por toda a parte e muita gente caminhando freneticamente. Homens de calça social e camisa branca, etiquetados com crachás passavam em minutos do Brasil para o Paraguai, com hora marcada para iniciar a jornada. Montes e montes de pessoas que apuravam o passo eram, como eu, notoriamente de fora, distantes daquela realidade de fronteira.
Cruzei a ponte com uma sensação de isolamento de todo o resto daquela gente que queria comprar. Melancolicamente eu pensava no quão é ilimitado o espaço e o tempo ali. Eu estava num outro país da América Latina. Assim que finalizei a ponte, o que se abriu em minha frente foi a famosa visão do inferno que me encantou.
Ruas imundas e fedorentas, num cheiro que mistura churrasquinho grego, esgoto, mofo e urina. As paredes de todos os lugares são sujas, emboloradas, sem pintura e sempre há em algum canto um balde já cheio, onde pingam sem parar gotas de uma água marrom que eu não sei de onde vem. Nos shoppings ou nos camelôs das ruas tudo é da mesma forma. Garotos e garotas que empacotam, lacram e despacham mercadorias. Gente com mochila, sacola e mãos cheias. Gritos de ofertas, câmbio, publicidade que sai da garganta daquela gente com traços indígenas, bugres, americanos.
Há quem esteja por lazer, depois de ter tomado um belo café em algum resort de Foz do Iguaçu, há quem tenha saído de sua cidade apenas para conhecer ou para comprar por mais barato e há quem esteja lá por acaso da rotina, por trabalho. Os sacoleiros, muambeiros ou contrabandistas, como costumam ser chamados estes verdadeiros heróis da fronteira.
Brasileiros sagazes, cheios de manha e jeitinho. Certos ou errados, não me importa. Estão numa luta diária que faz chegar até nossas mãos produtos sonhados por nós. Homens e mulheres que entram e saem de becos cheirando a mijo como se estivessem num labirinto, mas que sabem muito bem o caminho para sair e voltar quantas vezes for necessário. É calor. O suor está em todos os corpos que circulam ali. Os cabelos desarrumados em meio a tantas coisas pra carregar e pensar no preço, na qualidade, na garantia e em como passar pela aduana.
Todas as relações no Paraguai parecem ser de negócio, de troca, de disputa, de esperteza. Os imigrantes do Oriente Médio são simpáticos, porém não vacilam em descontos. Oferecem o produto e baixam muito pouco o valor. As mulheres com turbantes pelas ruas, exibem anéis, brincos e colares de ouro. Ishalá!
Os nipo-brasileiros podem ser encontrados mais nas lojas de eletrônicos, mais reservados. Os brasileiros estão vendendo em todas as lojas de todas as coisas, mas pensam em dólar. Esses sim, sempre ajudam nos descontos. E os anfitriões disso tudo também estão em todas, falando um portunhol arranhado e cambiando, sempre!
Passar a ponte num calor infernal depois de um dia exaustivo é uma condição quase sobre-humana. O medo de perder mercadoria declarada legalmente dentro da cota de U$ 300 e de ser pego com aquelas que estão por dentro das calças, das meias, nos bolsos, na mochila. É uma tensão. Na aduana, depois da ponte, a prova de fogo é mostrar tudo o que há de certinho para o pessoal da receita federal. Porque mesmo o certo, muitas vezes não é perdoado. É preciso chegar no Brasil e vender. Lucrar, sustentar-se daquilo. O Paraguai é a mistura da sujeira, da pobreza e do consumismo, do capitalismo, da superficialidade social. Não existe resistência. Quem vai pra não comprar nada sai com algum eletrônicozinho, um perfume importado, uma lembrança, um presente pra alguém. Ao fim da viagem, alguns voltam para os resorts, vestem roupa de banho e aproveitam a piscina. Outros, enfrentam horas de viagem e barreiras policiais, algumas bem, outras mal intencionadas.

sábado, 20 de outubro de 2007

Literatura Barata

Miro gostava de ver seu avô na sapataria. Gostava também das senhoras que levavam os sapatos dos maridos para o conserto. Era Miro quem as atendia. Jovens senhoras, com os peitos bem apertados na blusa e a saia justa na bunda levantada pela meia-calça. Todas davam um jeitinho de achar estragos nos calçados de seus homens para irem até a sapataria do velho. Miro era ainda muito jovem para saber por que suas calças apertavam no meio das pernas, por trás do balcão.

Literatura Barata

Ela queria que fosse diferente, sempre quis. Nilson não era o homem que ela sempre sonhou, mas que mal tinha tentar amá-lo? Tudo bem que ela queria sentir calafrios quando ele a tocava e queria arder em desejos todas as vezes que o marido chegava do trabalho e queria porque queria trepar. Ela não sentia é nada, coitada.
Nilson era bruto, mas só queria a esposa. Ele a amava tanto que nunca percebeu a falta de apetite dela.
E ela que se esforçava tanto, a pobre.

Literatura Barata

Sempre doce com seu filho, Mirian era o exemplo de mãe a ser seguido.
Preparava o lanche, arrumava a roupa para o dia seguinte, conferia o material da escola.
Acariciava o tempo todo, todos os dias, a foto do menino. Que injustiça divina um filho morto com uma mãe tão dedicada.

Literatura Barata

A pequena Isabela sentava-se todos os dias na varanda de sua casa. Ficava ali, quietinha enquanto as pessoas passavam apressadas pela calçada.
Era como um ritual para ela. Gostava de ouvir os carros, as conversas, os passos. Era uma ouvinte atenta.
Ela só não sabia por que não conseguia enxergar tudo o que emitia aqueles sons.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

No jornal...

Bate a porta na cara da solidão.
Pra avenida resolver.
Vermelho, verde.
Bate o pé inquieta.
Olha para as pessoas.
Verde,
amarelo
vermelho.
Vá!
Cuidado!
Páre!
Vermelho, verd...
"Garota atropelada já havia tentado suicídio mais de uma vez"
Aqui jaz, mais uma vez.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007


Ai de mim que em outra vida encomendei você.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

ah, minha saúde....

Não gasto meu tempo ou dinheiro indo ao médico, ao dentista ou ao oftalmologista. Uma vez gastei 300 paus com psicanálise, os quais emprestei e até hoje não consegui pagar. Foi um dinheiro que investi apenas para ficar com mais medo da minha gigante hipocrisia. Ela ali sentada me ouvindo e eu pagando sem ter coragem pra dizer que... e que...., e olha só, eu.... .

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Vertigem

Abstenha-se.
Deixe para lá qualquer coisa que lhe reste,
porque tudo é sensação.
Um ato involuntário do seu corpo,
essa sombra cintilante,
que desgruda e revela então,
do que é que estamos encobertos
e há duas coisas separadas aí.
Um duelo entre o que é real e qual é o disfarce.
O que desprende não pertence a nada.
O que fica,
desnudo,
em carne viva,
é o que é.
Não se vê na lucidez
nem se sente em outra pele,
nem se pensa o que os livros podem dar
e eu penso.
Para onde foi o que desprendeu?
Quem ficou?
E se você ainda precisar,
ah! todos precisam vestir-se daquilo que não é,
que não há.
Não se pode voltar,
não deixe voltar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Trivial

Quero ao meu lado apenas quem aceite,
como presente de Natal, uma poesia.
Procuro por quem não acredita muito no Natal,
mas como eu, sente uma certa ansiedade pelo revellion.

Mas quem, como eu,
se pergunta para onde vão as pombas no fim da tarde?
E quem as percebe no cedo da manhã?
Pra onde mesmo é que elas vão?

E quem, como eu,
procura borboletas em volta de ti?

E quem é que ainda canta,
adeus ano velho, feliz ano novo?
Se me dizes que o fazes sem restrições,
ficarei ao teu lado,
até que o fogo não se apague,
nem com a água mais límpida.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A necessidade do caos que não se deseja

Há algo rompido dentro de mim,
um amor, uma coisa que nunca decifrei ao certo.
Há uma dor e um pedaço sem cor,
uma flor sem pétalas
uma borboleta que fugiu do meu estômago.
Do jeito que era,
um rompimento comigo mesma,
com metade de mim.
Chegou, enfim, o caos indesejado e necessário
a dor que vai me resgatar
a ausência que vai me matar
uma partícula triste de um adeus presente
nos separamos sem sair dos nossos lugares
teu lugar sempre foi dentro de mim mas eu estive sempre
do teu lado de fora
e não demora,
estarei suspensa até do teu quintal bonito.

Ao Barzotto

Abaixo o orgulho
Enfim, seus olhos outra vez.
O perdi no caminho,
aprontei,
sofri sem você, pode acreditar.
O desdenhei,
fiz uma coletânea de todos os seus defeitos -
os que são de fato e os que inventei.
Bradei ódio e orgulho
enquanto sentia falta de como nos compreendemos
de como precisamos apenas nos olhar.
Tive medo do nunca mais você comigo
tantas vezes desviei o olhar – pra você não me entender
e perceber que era só da gente que eu precisava.
Corri da vontade de abraçar você e só aceitei isso,
quando num sono curto nos abraçamos outra vez.
No fundo eu até gosto das suas fúrias,
do seu relaxo com as coisas que eu me preocupo.
Eu só gosto de enxergar você em algum lugar,
saber que está perto,
saber que estamos perto.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Não há solidão na noite, não sempre

Na madrugada ela sentava-se em qualquer lugar que não lhe oferecesse mal estar. Esperava encontrar alguma boa conversa, ao menos alguém que apreciasse o momento como ela. Bebia, sem demora copos de uísque com guaraná. Gelo, nem sempre. Enquanto ficava em silêncio, apenas na companhia de sons distantes, ela mordia os lábios, arrancando a pele que insistia em lhe incomodar. Mariana não gostava da solidão, passou a enfrentá-la quando sentiu-se pior ao lado de alguém do que se estivesse só.
Naquela noite fazia frio. Um vento impiedoso e a sensação térmica que visitava os baixos graus dos termômetros. As mãos de Mariana, congeladas e com uma cor púrpura iam a boca a cada crise de tosse. Estava denunciada na cor das mãos e no peito carregado os problemas respiratórios e de circulação. Sempre lírica, Mariana acreditava que seu sangue pouco percorria suas extremidades por não vir com força do coração. Até aí, biologia. Mas Mariana sabia que de um modo ou outro seu coração estava fraco. Não a ponto de nenhuma tragédia nos hospitais da cidade, mas um sintoma de sofrimento que apenas ela, que só ela sabia sentir.
A menina continuava solitária aos goles e tragadas. Pensava sobre o que lhe haviam dito, em palavras ríspidas e medíocres, vindo deles todos que a repreendiam. A bebida não terminava no copo e Mariana refazia. Duas pedras de gelo, um grande pouco de uísque e o resto de guaraná. Sentia ali, naquela relação íntima com o copo de plástico, uma melancolia de tempos que se foram. Dos carnavais que brincava animada sem se importar com as músicas, das loucuras dos dias de folia que tinha um perfume chamado Natu Nóbilis e do quanto pensava ainda estar salva: “apenas no carnaval”. Mariana não tinha cara nem jeito de boa moça. Boa moça não era, mesmo.
Na cabeça, mil poemas que ao chegar em casa jamais lembraria. O poeta, pelo hábito de bebericar por aí deve ter a mão, facilmente papel e caneta. A sobriedade não lhe serve, mas a amnésia alcoólica acaba com sua arte. Mas Mariana não era poeta nem coisa nenhuma de que pudesse se orgulhar, nem que pudesse orgulhar àqueles que ela mais amava.
Mariana escondia nos minutos do cigarro a sua não vontade de ir embora e no tempo que passava com o copo ainda cheio nas mãos repetia a si mesma: só mais este. E mais este, e mais este, e mais este... Sem final. Ela queria tudo sem fim. O cigarro, o copo, os beijos que já dera, as noites de amor sem amor, a falta de compromisso, a conversa com uma amiga de sempre, a noite. Mariana não suportava o fim de cada coisa porque queria entender tudo naquela noite. Queria escrever um livro com cada gota do uísque, com cada fragmento de fumaça no ar.
Ah, menina levada essa. Sempre pela rua, pelos bares, pelos postos... tinha sede, tinha falta de calor das pessoas. Queria que qualquer vagabundo como ela a encontrasse ali. Paralisada, preguiçosa, satisfeita com apenas aquilo ali. Sempre encontrava alguém. Sempre ia pra casa depois de um tchau e mesmo odiando cada despedida de cada ser na face da terra, ela não era tão só assim.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Para Camila


Ela se chamava então, Poesia.
Menina feita com ares de pureza e de intensidade,
duas características que pouco se cruzam, mas que nela, Poesia,
faz uma rima.
A leio ao longe, sem poder tocar o papel,
sem sentir o cheiro da tinta ou do perfume com o qual foi escrita,
e descobri sem que alguém me dissesse,
seu nome, Poesia.
Uma pintura no rosto,
um rosto na natureza,
um sorriso estranho entre sorrisos que conheço
mas que posso dizer de conhecer?
Poesia é distante, vive longe e eu,
sinceramente não me importo.
Porque ela parece uma sensação,
e isso é a Poesia.
A conheci pelo nome de Poesia.

máscaras

Gosto dos alegres,
mas preciso dos tristes para ser doce.
Preciso também, as vezes, ser triste,
para que me olhem,
com um pouco mais de ternura.

Oração da noite

Tive bronquite desde os três meses de idade. O médico diagnosticou ser asmática e me receitou logo, com poucos anos, o Berotec. Meu pai insiste na alérgica e no tratamento homeopático. Quando criança, tossia até provocar vômito, não por querer, pois na época ainda não me condenava. Porém, agora já está na hora.
Conheci todo tipo de simpatia e reza, abacaxi, sebo de carneiro, mel e diabo a quatro. Saquinho de cânfora no peito e muito agasalho no inverno. Evitei sereno e bebida gelada. Não bastou.
Hoje, o cigarro e as taças de vinho, debaixo da lua na janela não são nenhuma forma de morrer tuberculosa ou de cirrose aos 20 ou 24 anos como os poetas que amo. Não passa da celebração da vida e um tanto de esforço para acabar com ela.
Continuo com o Berotec e algum xarope caseiro.
Em cada crise, seja asmática ou alérgica, contemplo a magnitude dos meus erros. As noites de sereno e embriaguês são só um pouco de alegria. O riso destemperado comemora os amigos, o filho que tive e o que não tive, numa ode a todo o crime que cometi em todos os casos.
Não se desgaste em me punir pelos amores vagabundos e tortos que tenho. Não se gaste com preocupações sobre sentimentos nefastos que me habitam. Já faço o suficiente, por mim e por todo o mundo.
Demônios me deixem em paz que eu preciso dormir.
Amém.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Provocação

"Estou cansada da minha própria hipocrisia. Até então, me cansava apenas da podridão da sociedade. Mas eu sou sociedade. A podridão está em mim. Estou cansada de me decepcionar com pessoas, que de ilustres passam a ser tremendos bundões. Pura entrega a corrupção de si mesmo. Tenho feito diversas CPI´s da Larissa. Faço minhas próprias acareações. Corrupta de mim mesma. Corruptora dos meus ideais e dos meus desejos mais profundos. Adepta ao mais fácil, por isso, o mais medíocre.Neruda disse um dia que estava memso cansada de ser homem. Eu só estou cansada de ser gente. Gente igual a todas as gentes. Gente urubu num dia e gente carniça no outro.Detesto odiar as pessoas que mais amo pelo simples fato de eu colocar a culpa das minhas amarras nelas. E o faço com tal veracidade que acredito nessa culpa mesmo sabendo que sou meu próprio cárcere.Eu tenho vergonha de causar vegonha nas pessoas e morro de pena que estas pessoas tenham vergonha de mim.Estou no fim da minha exaustão. Blehh"
Algo que escrevi, lá por novembro de 2006, entediada como hoje.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Do que me falta


Fossas e dores são, no mínimo interessantes.
Porque são profundas,
têm a essência daquilo que me faz falta
em noites insones de embriaguês e riso.
E são como espelhos, talvez.
Estes que nem você, nem eu gostamos,
destes que desviamos no banheiro da balada ou em casa,
antes de sair e até dos vidros espelhados das vitrines nas ruas.
Mas eles são necessários e eles existem, mais do que isso.
E a gente existe e se reflete neles e chega uma hora,
em que nos trancam o caminho para que nos deparemos,
sem escapatória da nossa imagem,
gorda ou magra,
feia ou bonita,
suja ou limpa,
atraente ou imbecil.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Confusão

Há um tempo, pouco tempo, as coisas parecem ser diferentes. Um sentimento que na verdade é tão intenso como o vermelho dos cabelos da menina-mulher. Acabou o sofrimento do inverno e o verão até parece ter se adiantado em tardes de sábado e domingo, final de semana que passou lento, com horas eternas de uma viagem surreal por dentro das pessoas.
É só no riso que a dor se manifesta e essa contradição é tão difícil de entender como frases extensas e tudo no vazio é tão perturbador como as vozes que me rodeiam e as vezes, eu não entendo nada. Eu gosto de sentir que somos iguais, que não há vergonha nos bolsos, assim como não há dinheiro. Perdeu-se a noção, a direção, o cartão de crédito e a sanidade. Mas ergue-se então um monumental estado de satisfação e desdém.
Não é desaforo, é apenas transgressão. Fazer tudo aquilo que é errado para todo o mundo mundial. Transgredir é ser ilegal, romântico, imoral, desinteressado. O mau gosto é o gosto que tem na minha boca. Gosto do feio porque se trata apenas de um conceito invisível, uma coisa bem mais complexa que pensar em como o feio se torna belo e como o belo de todos me irrita.
Realmente eu não sei o que eu quero. E me chamam confusa porque busco saciar minha carência em braços grandes, em braços pequenos e naquilo que é fútil, meio animal, meio selvagem e também naquilo que é sensível, que é emotivo e é o que mais machuca. Sensíveis são cruéis, sempre.
Quase tudo que merece punição eu já fiz. Crimes e mais crimes. Falta muito pouco pra não haver nada que eu não tenha feito. E se eu já não sei o porquê estou nesta última linha de texto, isso é normal, é real, é natural.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

E se essa paz precisa de guerra,
minhas armas estão postas à mesa,
meus pratos estão postos à pobreza.
Meus braços dispostos a você,
minha farda ao lado do colchão.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Noites

A lua se despede,
sem mais cervejas, cigarros ou beijos
ela vai embora,
porque passou da hora,
e ficam a espera do sol, os bêbados prateados.
Um sol que invade a memória falha,
a cabeça pesada,
algum sofrimento que ficou.
E a hora de recomeçar,
com sobriedade,
a duras penas pensar, agir e sorrir.
Da noite, apenas sobrou um resto na garrafa,
o cheiro de lua que sai pelos poros,
a água que fica na boca
do beijo que se quis.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Precisão


Eu não quero me despedir da tua manha,

da tua farsa,

da tua caixinha de risos.

Não quero me desprender dos teus dedos,

das tuas mãos,

da tua teia de falsas emoções.

Mas eu preciso te deixar, ou, deixo de mim.

Eu preciso não mais te sufocar, vou me sufocar só.

Eu devo entender, me convencer,

me matar, sei lá.

E eu devo, muito mais do que quero,

tirar esse teu cheiro de tudo.






quarta-feira, 25 de julho de 2007

Uma nova magia

Nunca havia comprado nada pela internet. Já nadei pela lojinha do MST, vi preço de umas camisetas de alguns outros movimentos, alguns DVDs inatingíveis por aqui, no meu mundo. Mas meio cabloca ficava receosa em pagar por algo que não podia tomar nas mãos. E se não enviassem? Pra quem eu reclamaria? Ia sempre até a forma de pagamento e fechava logo a página. Mas quando algo, ao invés de ser tomado nas mãos nos toma a alma, então o medo ou algum tipo de razão desaparecem.
Depois que meu amigo Leonardo Handa, o Japa, gravou um CD para mim, procurei por aquele nome na internet e dei de cara com o site. O Teatro Mágico. Eu queria engolir cada música do CD, mastigar o site, degustar cada imagem dos shows e todo aquele tom artístico. Me senti desarmada pela poesia, pela música, pela maquiagem de cada integrante da trupe. E mais do que nunca eu me frustrei por não saber nada de música e não poder ser O Teatro Mágico.
Encomendei DVD, uma camiseta para mim e sem dúvidas uma para o Japa. Ambas com a competente frase: “Os opostos si distraem os dispostos se atraem”. Lógico que depois de uma dúvida cruel pela frase “Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você” ou ainda, “Só para raros”. E... ufa! Eu paguei e recebi minha compra. Dei o presente ao Léo como forma de agradecimento, porque não há oferenda maior de um ser humano ao outro do que algo que tome alma da forma que O Teatro Mágico tomou a minha.
O DVD? Perfeito, simples, à vontade, b o n i t o.
Me arrepiei em cada música e uma espécie desconhecida de emoção me saltou dos olhos, líquida.
E que a poesia não falte nunca ao mundo.
E que aquilo que é mágico, musical, teatral se junte tudo numa coisa só.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Eu já estou com os pés nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos
Que notícias me dão de você
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Um domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos
Que notícias me dão de você
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Um domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos
Que noitícias me dão de você
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

(Nada Será Como Está - Milton Nascimento)

Solidariedad Internacional con Oaxaca!

Todos somos pueblo.

segunda-feira, 9 de julho de 2007



O Teatro Mágico - Realejo
Danilo Souza/ Fernando Anitelli
Será que a sorte virá num realejo?
Trazendo o pão da manhã
A faca e o queijo
Ou talvez... um beijo teu
Que me empreste a alegria... que me faça juntar
Todo resto do dia... meu café, meu jantar
Meu mundo inteiro...
que é tão fácil de enxergar... E chegar
Nenhum medo que possa enfrentar
Nem segredo que possa contar
Enquanto e tão cedo
Tão cedo
Enquanto for... um berço meu
Enquanto for... um terço meu
Serás vida... bem vinda
Serás viva... bem viva
Em mim
Será que a noite vira num vilarejo
vejo a ponte que levara o que desejo
admiro o que há de lindo e o que há de ser... você
Enquanto for... um berço meu
Enquanto for... um terço meu
Serás vida... bem vinda
Serás viva... bem viva
Em mim
"Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem"

sexta-feira, 22 de junho de 2007


Um poema escrito e musicado por Leonardo Handa, um grande amor, para mim.


Histórias dilaceradas antes de acordar
Contadas pela boca de lábios rachados
Pelo calor intenso de outros lábios que desesperados
Procuravam amar.
Na testa rabiscada
O croqui quase completo
De um ato assim
Acontecido calmamente.
Sem intenção
Nem comparação.
Como qualquer traição
Que acontecida se faz
Triste, feliz e ambígua
Na forma de amor voraz.

Tem gente que não bebe e tá morrendo

A noite cai na cidade. As luzes são tantas,
de faróis, de lâmpadas... a sensação é de que nada vai parar.
Pelas ruas, uma ode à desigualdade.
Pelas calçadas a intimidade do velho com o frio,
com a fome,
com o abandono.
Nos bares, cheirando à cachaça barata,
uma ode à vida.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Aos amigos Léo, Marta, Stella e Matheus

Essa foto desfocada nada mais é do que a nítida imagem que vemos,
geralmente, quando estamos juntos.


Sem vocês me falta poesia, insanidade, trocadilhos, jornalismo, música, cinema, literatura.


Sem vocês, a vida não vale um fiat 147.


Sem vocês, sinto que a revolução que eu não faço desaparece.

terça-feira, 5 de junho de 2007

MTST


“Aos poderosos

Considerando que existem grandes propriedades
enquanto os senhores nos deixam sem teto
nós decidimos: agora nelas nos instalaremos.
Porque em nossos buracos não podemos mais ficar
considerando que os senhores nos ameaçam
com balas e fuzis
nós decidimos: de agora em diante
temeremos mais a miséria do que a morte.”
Bertold Brecht - Dias de Comuna

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Pelegagem





José Serra foi dirigente estudantil e presidente da União Nacional dos Estudantes (1963/64).
Perseguido pelo governo militar, que assumiu em 1964, permaneceu no exílio durante 14 anos.









José Serra agora é governador de São Paulo. Um tucano com habilidades natas de cinismo, algo bem peculiar do PSDB.
Depois de ter sido eleito, usando de seu passado no movimento estudantil para montar uma imagem decente perante o BRasil, Serra larga sua tropa de choque como cães em cima dos estudantes.
É uma vergonha ter tido alguém como Serra no ME.
É uma vergonha ter no BRasil um governante como Serra.
Que a ocupação continue!!!

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Carta ao meu nipo-amigo

Querido amigo, Leonardo Handa
O final desta manhã de quarta-feira, com alguns deveres já cumpridos no trabalho e ouvindo o último CD do IRA!, que muito me remete a você, me despertou a vontade de lhe escrever.
Seu comentário mais recente me deixou, no mínimo, feliz.
Nosso comodismo é peculiar talvez à monotonia de nossas rotinas de trabalho, estudo e algum momento de descontração com os amigos, tomando qualquer coisa alcoólica. Nosso dia-a-dia nos exige muito pouco. Nossa cômoda empresa de diplomas é, não mais que um agardável lugar onde encontramos com amigos e com raras pessoas que nos confortam com os defeitos em comum. Nosso local de trabalho, um pequeno espaço de realização parcial da profissão. Não é bem o que gostaríamos de estar fazendo, mas com um bom jogo de cintura driblamos as oito lentas horas que se passam.
É aquela coisa, estamos aí no mundo, fazendo o pequeno possível. Conseguimos discutir qualquer coisa sobre cultura, cinema e música com alguns, um trivial discurso político com outros, uma indignação na maior parte das vezes, tacanha com coisas pequenas... outro dia me deparei com uma destas: alguns alunos queriam "parar tudo" se a direção não resolvesse um impasse de formatura. A questão era que enquanto alguns que pagaram iriam estar sob os holofotes enquanto que outros que não pagaram, mas que se formariam na mesma ocasião, não apareceriam. Tudo bem, cada um com seus problemas, suas prioridades, seus princípios. Mas e a reforma universitária? E os colegas da USP que lutam pela autonomia da universidade. Ah, que bobeira, deixa pra lá. Vamos brigar pelas luzes da formatura.
Eu faço pouco, eu faço pouquíssimo pelas coisas que acredito e defendo. Sem todo o afinco do mundo tento a luta no movimento estudantil que não é feito por aqui, tento também uma discussão mais sólida sobre comunicação e me sinto, regularmente uma ridícula utópica. eu poderia desistir disso tudo. Nada me afeta mesmo. Mas é que me nutre. Preciso sentir isso tudo.
Só queria ter agora, mais tempo na faculdade. Passou tão rápido e só agora as coisas parecem fazer algum sentido. Mas como sempre, é tarde demais.
Tenho a lhe dizer que a idade é prêmio. Os anos de acúmulo, seja lá do que for são presentinhos isngelos da vida. Minha alma pede pra que eu a mantenha com o desejo de uma sexta-feira com amigos sempre vivo. Ela me diz a todo momento para que eu ensine, logo nos primeiros anos ao meu filho, coisas que dele reflitam em mim e não me deixem cair na chatice de ser adulta, de ser velha.
Estamos aí, estamos para a vida muito mais do que ela está para conosco. Mas eu ganho ânimo sabendo que sua poesia pode vir a ser e a fazer revoluções. Porque você sabe, um de meus heróis não empunhou outra arma que não fosse a poesia e a verdade em viver o que achava verdadeiro. Falo do Pablo Neruda, um baita comunista chileno que morreu angustiado pelo desgosto da deposição de um presidente, pela matança de inocentes, enfim... é a poesia a própria revolução, meu caro.

Sem mais, um forte abraço para esquentar este inverno voraz.
Larissa

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Deixemos de lado a anestesia






Já dizia Raul, “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro, evita o aperto de mão de um possível aliado. Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo, sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo...”.
Toda a mudança é bem vinda para uns, mal vinda para os outros. Na história, do Brasil e do mundo o embate entre os ativistas e os anestesiados pelo sistema chancelou uma série de rótulos para um grupo e outro. Quem quer mudança, quer baderna. Revolucionários são utópicos e não pensam conforme a realidade. A realidade, neste caso é: a maioria não está nem aí, cada um faz por si, o dinheiro manda em tudo e pronto. Os conservadores e os apáticos rezam a cartilha da moral, do fazer “o certo”, do dançar conforme a música e a música, neste caso é ganhar o seu salário e o que mais conseguir, seja com honestidade ou não.
Há neste engôdo uma parcela absurda daqueles que vivem suas vidas sem saber quantas voltas o mundo dá a sua volta. Transitam por aí como zumbis. Estes são geralmente os que optam por isso ou os que estão a margem da informação e da formação crítica. São vilões e vítimas de uma educação engessada que funciona apenas por funcionar, de políticos viciados em votos comprados econômicamoralmente, de uma economia sufocada pelo capitalismo e a corrida pelo lucro de poucos e por uma comunicação ao estilo Rede Globo. Todos abençoados por uma religião que cega com a ditadura do pecado, do temor à deus e da santidade daqueles que não desgarram.
Falar de política aos 21 anos com avidez por mudança, isso é coisa de sonhadores. Abdicar de costumes fadados ao capitalismo é pura bobeira. Esperar que o anestesiado desperte é inocência. Fica mais fácil olhar pra si e abrir mão da luta. Olhar para a maioria e culpa-la pela ignorância, sobrecarregá-la: “Eu desisto, não adianta, ninguém vai mudar”. É reconfortante esquecer-se da própria fraqueza em prol da fraqueza da massa.
Eu não aceito que, aqueles que estão no mesmo lugar que eu, ocupando uma vaga no planeta permaneça no sono profundo da apatia. Prefiro os rótulos, prefiro a chacota, prefiro sentir o descaso do que não provoca-lo. Prefiro deixar de convencer as paredes do quarto para apertar a mão de um companheiro de luta.
Prefiro tentar a mudança.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

A Miss Brasil e o DCE FADEP


Há algumas semanas, uma tímida comissão para formação do DCE na FADEP se reúne para adotar estratégias de mobilizar os estudantes. O objetivo principal é discutir o estatuto e na sequencia dar início ao processo eleitoral e implantação efetiva do Diretório Central dos Estudantes.
Em quase quatro anos de FADEP não é a primeira vez que um grupo dos chamados "alunos revolucionários, utópicos, sonhadores" tentam a façanha.
Nas reuniões, ficou decidida a prioridade por uma campanha no estilo formoguinhas, de conscientização, de explicação a todos os estudantes. Um cronograma elaborado para que os dias de aula sejam diferentes e alguns minutos além do intervalo não prejudiquem os alunos foi colocado em todas as salas, conclamando a todos para que se envolvam, compareçam.
A agremiação de estudantes em torno de uma politização e análise do contexto é lenta e resulta minimamente. A ignorância prevalece e mesmo os acontecimentos no Brasil que provam a necessidade da luta estudantil como instrumento de mudança para toda a sociedade convence a maioria.
Na noite de ontem, quando mais uma reunião estava agendada, mais quatro colegas se juntaram a comissão do DCE enquanto no andar de cima da biblioteca acontecia um desfile com a presença de uma miss Brasil. A cantina estava cheia e todos lá desfrutavam do poder da estética e da cultura machista. É quase esmagadora a maioria que se deixa levar por pão e circo.
**foto do Erecom 2007, Curitiba.

Movimentos Sociais


O Brasil vive um momento histórico no contexto dos Movimentos Sociais. São ocupações, atos públicos e moções de apoio a estudantes, trabalhadores sem terra, sem teto, servidores públicos...

Enquanto uma proposta quer regulamentar as greves, tolhindo o direito a reivindicar, o País fervilha em diferentes cantos.


Em São Paulo a reitoria da USP está ocupada há 22 dias.

Nesta semana a federal de Alagoas aderiu a mesma ação e além de reivindicar, ocupou em apoio à USP.

Ontem o Movimento dos Atingidos por Barragens e Via Campesina ocuparam a Usina de Tucuruí, no Pará .

Na quarta-feira, aproximadamente 4,5 mil militantes dos mais diversos segmentos pararam a Paulista num protesto dos servidores públicos.

Estaradas ficam bloqueadas por sem-terras.

Fábricas param.


Não é o caos, mas sim a revolução.

A mídia desinforma, principalmente através da TV e as pessoas ainda não se deram conta de que historicamente o Brasil retorna a um quadro de insatisfação e cobrança do poder público.

São diferentes áreas, todas com o propósito de alguma mudança.


A ocupação dos estudantes da USP vai marcar para sempre como uma forma de organização em que ninguém pode encher a boca pra chamar nossos companheiros de "baderneiros". Nenhum tipo de depredação, divisão de tarefas por grupos, rodas de estudo, preparo de defesa e não ofensiva para esperar a tropa de choque.


O governo tenta minimizar a situação, a mídia tenta abafar.

O povo quer lutar.


terça-feira, 22 de maio de 2007

O proletariado passa por diversas
etapas de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com o nascimento.
(Manifesto do Partido Comunista)

As manchetes do CMI de 21 de maio de 2007 mostram que os movimentos sociais no Brasil podem trazer a revolução!!!








segunda-feira, 21 de maio de 2007

(hiper)TENSÃO


O meu amigo, quase que de longa data é hipertenso. Ele deve ter seus, sei lá, 23 anos? Espero que seja isso. Enfim, o cara só ouve música alternativa das boas, escreve sobre orgias com os músicos e escritores que se instalam em seu quarto, bebe exageradamente e fuma cigarros mentolados. Ah! O Léo também faz coisas que o deixam meio inseguros quanto a sua sanidade. Ele, ineditamente sendo um erudito, gosta de IRA!. Eu também gosto, adoro. Mas é que eu não sou erudita. E no resumo deste descendente de japonês, aparece de repente uma hipertensão, seguida da tensão da Stella.
Ah sim, a Stella é uma erudita também (embora Lapada na Rachada, Risca Faca e outros as vezes componham seu repertório) e ela, assim como o Léo, não tem uma vida muito regrada ou saudável. É adepta de costumes a la Tia Marlene (ela fuma enquanto cozinha, por exemplo) e se veste com uma originalidade que chega a ser chique. Enfim, ela, que está tensa por conta da morte, digo, da hipertensão do Léo e quer que o Léo tenha uma vida saudável para que dure mais uns 500 anos (ela é exagerada também).
Nesses momentos, assim como ela, eu volto de um transe que me faz ignorar a morte. Passo então a pensar nela como alguém muito próxima e que quer ainda mais. Eu prefiro realmente não pensar nisto. Prefiro que a vida seja curta, como a vida das borboletas – que a Stella gosta tanto – que voam pelos lugares bonitos e mostram suas asas coloridas do que uma vida centenária, como a das tartarugas – que eu gosto tanto – que carregam peso demais nas costas e são lentas, com um aspecto sempre condenado.
Mas entre tartarugas e borboletas eu desejo que o Léo viva, com sua erudição, seus mentolados, suas cervejas e martinis e com sua (in)sanidade por quanto tempo for necessário, no tempo em que ele ainda seja capaz de sorrir nas madrugadas geladas do sudoeste ou do convidativo verão na Ilha do Mel, que por mais que eu não conheça, a vejo refletida nos olhos pequenos e quase fechados do Léo, o hipertenso Léo.

Poesia de Jonas Ferreira Bahia, militante do MST.


E como gritaria aos quatro ventos, a companheira Gabriela Caramuru:


"Ela virá, a revolução garantirá a todos o direito não somente ao pão mas tambem a poesia".



Aprenda esta lição


O que sempre levo em minha imaginação

é construir um novo modelo para nossa educação,

onde da criança até o velho aprenda esta lição

de ser um arquiteto rumo à transformação.

Carregarei sempre em minha alma

aquilo que sempre devo ensinar:

da amar sempre a natureza e a vida respeitar.

Cuidar do corpo, da alma e espírito,

é ter na mente,

um projeto de inclusão social, não matando os inocentes.

Acabar com as guerras,

que só fome e desespero,

pois pouco avalia-se o ser humano, mas muito o dinheiro.

Não sei o que vou fazer na minha imaginação,

se tento colocar minha idéia em prática, logo vem a repreensão,

e posso ser castigado, dizendo que eu estaria errado,

fazendo estas comparações, entre o sistema capitalista,

que só traz fome e injustiça e muitas perseguições

com um novo projeto de igualdade que toda humanidade

tenha educação de boa qualidade,

sabendo o que é realmente ser feliz de verdade,

vivendo todos como irmãos,

viva a nossa revolução e a nova sociedade.

Esse é apenas um projeto que guarda a minha mente,

fere o meu corpo, minha alma e espírito,

dá uma dor no peito, quero fugir, mas não tem outro jeito,

me ponho a chorar, não sei até quando meu coração vai agüentar

segurar este novo projeto de educação popular.


Jonas Ferreira Bahia, militante do MST


quarta-feira, 16 de maio de 2007

Paradoxos



Um pouco sobre Reforma Política e a Teoria da Decisão Governamental, de Francisco Carlos Duarte.



"A história do conhecimento desenvolveu-se até agora pelo silêncio em relação
aos paradoxos, pelo seu ostensivo ocultamento."

"Os paradoxos representam um problema para o observador, mas não para os
sistemas que operam com base neles."


A rosa que carregas como um agrado, seja a quem for, trata-se
de um suave paradoxo.
O paradoxo é o que acaricia e fere. Sem ele não haveria luta.
Lutamos por sermos, nós mesmos, paradoxos.



OPERE O SISTEMA!!!







terça-feira, 15 de maio de 2007


Tenho uma pandora que se chama Movimento. Ela está sempre fechada, em silêncio. Eu, insistente, abro. Aquela mesma música não me cansa porque muda. É a mesma, mas muda. Toda vez que ouço estou diferente, estou eu, mudada também mas sem ser a mesma.

Dentro da pandora Movimento tem uma bailarina que dança ao som daquela velha-nova música. A bailarina, vestida de vermelho - não de branco - se chama Luta. Quando a pandora é aberta, é tocada por mãos incessantemente a procura de ver e ouvir o Movimento, liberta a Luta para sua dança triunfal, sua exibição mais perfeita.

Pandoras são nostálgicas. Hoje em dia, não se dão mais de presente estas caixinhas de música que podem ter a forma de um piano ou de um pequeno baú. O Movimento é algo que se fazia no passado, mas que se for tocado, ainda funciona, continua.

Minha Pandora é infindável. A Luta, por vezes adormece num silêncio insuportável, as vezes necessário. A Luta revive se eu a procuro, se eu a resgato e se eu, principalmente eu, me reencanto com sua bela desenvoltura, vestida de vermelho.

Que nossas mãos abram a Pandora Movimento, que nossos olhos vejam a Bailarina Luta e que nossos ouvidos ouçam aquela música renitente que se chama Revolução.

domingo, 13 de maio de 2007

V de Vingança


“Eu, como muitos de vocês, aprecio os confortos do dia a dia. A segurança da família, a tranqüilidade da rotina, gosto disso como todo mundo. Mas no espírito da comemoração em que eventos do passado associados à morte de alguém ou do fim de uma luta terrível, são comemorados com um belo feriado pensei em marcar esse cinco de novembro um dia que, infelizmente, já foi esquecido. Aproveitando um pouco do tempo de vocês para bater um papo. Há aqueles que não querem que falemos. Desconfio que estejam dando ordens ao telefone e homens armados virão logo. Por quê? O governo pode usar a violência em vez do diálogo, mas as palavras sempre manterão seu poder. As palavras oferecem um significado e, para aqueles que ouvem a enunciação da verdade. E a verdade é que há algo terrivelmente errado com o país. Crueldade e injustiça, intolerância e opressão. Se antes você tinha liberdade de se opor e falar quando quisesse agora você tem censores e câmeras obrigando-o a se submeter. Como isso aconteceu? Quem é o culpado? Há alguns mais responsáveis que outros e eles vão arcar com as conseqüências. Mas, verdade seja dita, se procuram culpados, basta vocês se olharem no espelho. Eu sei porque vocês fizeram isso. Sei que tinham medo. Quem não teria? Guerra, terror, doença. Uma série de problemas se juntaram para corromper sua razão e afetar seu bom senso. O medo dominou vocês, e vocês recorrem ao novo alto chanceler, Adam Sutler. Ele prometeu ordem. Prometeu paz. Tudo o que você ele pediu em troca foi o consentimento silencioso. Ontem, destruí o Old Bailey para lembrar ao país e que foi esquecido. Há 400 anos, um grande cidadão quis gravar o cinco de novembro para sempre em nossa memória. Eu queria lembrar ao mundo que imparcialidade, justiça, liberdade, são mais que palavras. São perspectivas. Então, se vocês não viram nada se desconhecem os crimes deste governo, sugiro que deixem o cinco de novembro passar em branco. Mas se vocês vêem o que eu vejo se sentem o que sinto e se buscam o que eu busco, peço que estejam ao meu lado, daqui um ano, na entrada do Parlamento e juntos daremos a eles um cinco de novembro que nunca, jamais será esquecido”
O povo pelo povo!

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A solidão de uma nova minoria

O homem é só. Em todo seu contexto social o ser humano – um produto da sociedade – em seus conflitos étnicos, ideológicos e parciais se isola numa dimensão desconhecida até mesmo por seu semelhante mais íntimo. Tudo o que é coletivo, por excelência, isola cada um em suas diferenças, tornando até mesmo aquele que é popular, uma minoria.
As minorias são, historicamente os negros, as mulheres, os pobres, os homossexuais, os índios, os deficientes, comunidades descendentes de imigrantes, membros de comunidades religiosas e ciganos. A globalização e o capitalismo brutais geram uma nova massa solitária e excluída: o indivíduo. As ânsias e tudo o que é reprimido submete o homem a uma situação caótica de opressão, em que tudo ao seu redor o ignora enquanto detentor de pensamentos próprios e conflitantes com os da sociedade.
No espaço onde as relações se fazem a partir de convenções e tradições, a autonomia das ações vive uma ditadura silenciosa. Conforme Octavio Paz, cada indivíduo é único e cada indivíduo é inúmeros indivíduos que ele não conhece. Da mesma forma, toda a coletividade desconhece cada ator de seu processo.
Fechado, sem perceber, o homem convive automaticamente, deixando de lado a intensidade do que quer e transgride sua natureza. As contradições do que é e do que deve ser o fazem só. “O inferno está inteiro na minha solidão”, diz Hugo.
O inferno, por sua vez é mutável ao passo que é particular. Para uns, as leis, para outros, a subversão. As inquietudes da alma são um porão inquisidor, são elementos responsáveis – avaliadas pela sociedade – primordiais ao sufocamento dos anseios humanos.
Mas se Pascal afirma que para si mesmo o indivíduo é um soberbo paradoxo, é possível admitir que o íntimo é o Coliseu de todo o ser.
A primeira opressão é a de si mesmo, enquanto censor – formado pela conjuntura em que está inserido. Todo aquele que é consciente de sua resistência à anulação do “governo pessoal” vive o pisoteamente dos próprios pensamento, que segundo Victor Hugo, são os deuses, monstros e gigantes a quem todo o homem está entregue.

Texto escrito na lanchonete, numa madrugada destas.
Lunchtime atop a Skyscraper, 1932

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Mafalda


Breve nota de devoção

Além do Frei Galvão, agora o José Serra quer uma tal de Irmã Dulce canonizada.
Eu prefiro a santidade de Geni, rainha dos detentos, das loucas, dos lazarentos e dos moleques do internato e de quebra, beatifiquem o Chico, por favor.
Aliás, uma das quentinhas da visita de Bento XVII é a barbárie de escolher meninos bem comportados da Febem para que pudessem ver de perto o velho.
Stella (minha versão evoluída) me diz que nem lembra da existência da igreja e eu juro, vou me libertar dessa incômoda sensação claustrofóbica que os fantasminhas de batina e a corolas odiosas me causam.
Mas voltando a Geni, minha santa de devoção, é impossível que esta gentileza católica seja negada a humanidade. Alguém que dá seu corpo aos errantes, aos cegos, que vai amiúde com os velhinhos sem saúde e as viúvas sem porvir só pode ser canonizada, só!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

O poeminha fajuto, na madrugada fria de uma lanchonete.

A noite me engole.
De qualquer forma eu sou da noite,
eu sou a noite.
a solidão não me impede,
não me repele
de sentir
de viver
de ver.
Nem o meu "não-ambiente",
tampouco meu horário a cumprir - e eu o cumpro -,
menos ainda o frio.
Eu sei, não deveria,
mas o "entre" dever e não dever me atrai.
A noite conforta minha contravenção.
O meu contraponto,
ah! o meu contraponto
habita tudo o que sou,
quem me rodeia agora, não me julga
e eles, que não me conhecem,
oferecem cumplicidade.

Uma bela noite gelada





O frio consumia sem piedade. As pessoas nas rodas de conversa bradavam contra o frio, se uniam num apelo ao calor humano. A minha noite, ainda que em boa companhia me dizia que não seria fácil suportar a crueldade do inverno na solidão de meu quarto. Outros amigos preferiram não ir pra algum lugar, mas eu, eu precisava fazer algo por mim. A duas quadras de casa resolvi voltar, caminhar até algum lugar onde as pessoas celebrassem a chegada da estação maldita. Andei várias quadras até encontrar uma lanchonete. Lá aproveitei para matar a fome, pedi qualquer coisa e uma cerveja.
Os homens jogando baralho e conversando, possivelmente achavam estranho uma mulher ali, sentada e já com papel e caneta em punho, a cerveja e a minha solidão. Pouco me importava, já passei tão mais por tão menos que estar ali não me deixava em condição negativa alguma. Assim que comecei a escrever – um texto para a disciplina de Métodos e Pesquisa em comunicação – minha comida chegou. Pensei em parar, mas não podia naquele instante. Comia, escrevia, bebia e estava bem daquele jeito. O ambiente se tornou de repente propício demais para o meu tema: a solidão de cada um com seus pensamentos e desejos. (assim que o digitar, eu publico aqui)
Ao mesmo tempo em que eu estava completamente habituada ao lugar e já havia partido pra segunda cerveja e rumando o final do texto, pensava no quão abstrata e desordenada eu sou e o quanto ainda seria prejudicada por isso. Mas ainda assim eu me sentia bem. A verdade é que quando idealizo algumas situações, está muito distante do meu alcance torná-las realidade e por isso não me preocupo em como agir se de fato, elas acontecerem. Embora muitas vezes o clima monótono se aposse da minha vida, essas situações planejadas no imaginário se concretizam. A noite de ontem talvez, foi uma destas ocasiões. No fim, a melhor atitude a tomar é ficar de bem com aquilo que é seu próprio desejo, seu próprio estilo de “qualidade de vida”.
O certo e o errado não conhecem frio ou calor, tão menos conhecem aqueles que estão sob o seu jugo. Estar ali, aos olhos do mundo convencional podia ser errado, mas a mim me parecia pura busca por mim mesma, e isso, é certo ou errado, é bom ou é mau?
Termino o texto. A cerveja ainda gelada pela temperatura ambiente (o bar era aberto) me convidava a não parar de escrever. Nesse intervalo entre o fim de um texto e o início de qualquer outra coisa, um cigarro. Pois como diz na música, “é como num comercial de cigarros, que na verdade se esquece com uns tragos, sonho difícil de acordar”. Saiu um poeminha meia boca, com gosto de adeus àquela noite e um até a próxima ao bar. Eu queria sair dali, mas não queria estar sozinha depois disso. Queria chegar em casa e beijar o rosto quente do meu filho e dizer a ele, mesmo que dormindo, que a vida é bacana e os bares sempre são santuários. Queria vê-lo acordar no outro dia e é só assim que minhas noites sejam aonde for, são completas. Mas, falando em santuário, minha caminhada na madrugada era também de boas vindas ao Bento. Eu celebrava no meu catolicismo e religiosidade abandonados a visita do homem de deus ao Brasil.
Pago a conta. O simpático dono do bar exclama que gosto de estudar e que ele, num frio daqueles jamais pegaria uma caneta. “Olha moço, não é bem gostar de estudar e mais da metade do mundo também não estaria aqui neste bar – com uma caneta na mão – neste frio, de jeito nenhum”. Ele me olhou como quem diz “éééé, Aparício”. Na volta pra casa não foi fácil não. O vento cortava a alma de qualquer um na rua, embora eu não tenha encontrado uma alma viva sequer em todo o percurso.
A rua deserta conclamava os bêbados e vagabundos a celebra-la, mas não foi atendida. Ao meu lado se arrastavam apenas folhas secas, papéizinhos, e o único barulho existente era dos geradores de energia. Um boeiro. A água corria lá embaixo e este foi mais um efeito sonoro da minha caminhada congelante até em casa. Agora, só precisava encarar o resto da noite de sono – que foi cheia de sonhos malucos – e acordar para um novo dia. E o sol apareceu.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Terrorismo Poético



Vocês dizem amém, eu sei.

Legião de adoradores, senhores déspotas da liberdade. Da minha liberdade! Todos fiéis a nada, fiéis ao que não se vê. Peregrinos do pecado, promíscuos pastores com seus rebanhos empastados de burrice e ódio, senhores da barbárie.

É o poder pela piedade.

Terrorismo Poético sempre, senhoras e senhores.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

O bar, as jovens e a puta

Em algum lugar por ali, um maestro regia uma orquestra, um ator saía da coxia, um pandeiro tremia. Ali por perto, duas mulheres de mãos dadas, dois homens enamorados, celebravam o amor num agradável bar. Mas, muito próximas estavam duas garotas universitárias, jovens, amigas. Long Beach – com um letreiro sujo, um cheiro de pastel e olhares escrotos brindavam mulheres esdrúxulas, feias e sem classe alguma pra uma puta da Santos Andrade – era um aconchegante lugar.
Ah, sim, estas amigas estavam no Long Beach.
A cerveja gelada e convidativa celebrava talvez as vicissitudes da capital. A fumaça leve dos cigarros nublava aquele peculiar ambiente de vadiagem, desespero e rotina. Numa mesa, uma mulher se distinguia das demais – e não porque era negra – mas porque era uma bela mulher. Uma jovem, também. Cabelos trançados, aparelho nos dentes, lábios condizentes com sua raça e um corpo vestido sob uma blusa de lã, cor-de-rosa justa e curta, calça a la ginástica e botas cano alto sobre ela. Comia – a negra – um lanche. Faminta, sabe-se lá, de tantas outras coisas. Comia, ria e repentinamente dava adeus – não um adeus propriamente dito – ao local. Sozinha é que não saiu, por certo, tampouco bem acompanhada. Com vistas a todas as características da mulher, um esbaforido senhor com aspecto porco saía salivando, falando alto e a seguindo. Ah, aliás, seu nome, Bianca.
As universitárias continuavam ali, um perrengue com a segunda cerveja. Tinham horário a cumprir. Sem que aquela garrafa tivesse as derrubado, o proprietário do delicioso ambiente lhes trazia uma nova garrafa. Ninguém ali havia pedido, não ao menos fora de pensamento. “-Ele, ali, está pagando a cerveja pras moças.”
É possível imaginar o riso incontido das moças, interioranas. Oras, um homem a pagar cervejas como se elas, desinteressadas em qualquer atividade do gênero, naquele momento, fossem retribuir tal ousadia. “-Vamos chamar uma daquelas mulheres para ajudar na cerveja”, disse uma delas para a outra. “-Você está louca!”, retrucava a outra realizando parte de seus sonhos naquele clima bêbado. Nenhuma das “garotas” no bar ou do outro lado da rua condiziam com um pouco do que as estudantes precisavam para fazer aquele convite. Eis que, pouquíssimo tempo depois, Bianca, a puta destaque do bar volta, logo atrás do velho asqueroso que havia lhe acompanhado anteriormente. “Ela já fez o serviço.” “-Que rápida hein?”, comentavam as duas sabendo que havia chegado a melhor companhia para terminar aquela cerveja paga.
Perto da porta do bar, onde brincavam os filhos do dono, todos descendentes de japoneses – isolados da penumbra alcoólica – e foi ali que Bianca cochichou para a mais velha: “-Pega dois reais de catuaba pra mim, tem muito homem no bar e eu tenho vergonha”, dizia rindo-se toda. Assim que a menina japonesa ia entregar a catuaba de Bianca, as meninas pediram que ela a chamasse para sentar-se ali. Com um sorriso de alguém que está longe de ser tímida, a morena chegou e sentou. Bebeu logo uns goles de cerveja intercalados com outros da catuaba.
Aquela garota de programa sem muitos pudores demonstrava para as jovens amigas uma segurança ou talvez apenas um disfarce para suas dores. Era decidida, sabia o que queria e de quebra, até o que não queria. Ao fim da conversa, as três mais contentes do que o resto do mundo se despediram. Bianca para elas, Ana Paula para o velho que pagara as cervejas.