quarta-feira, 30 de maio de 2007

Carta ao meu nipo-amigo

Querido amigo, Leonardo Handa
O final desta manhã de quarta-feira, com alguns deveres já cumpridos no trabalho e ouvindo o último CD do IRA!, que muito me remete a você, me despertou a vontade de lhe escrever.
Seu comentário mais recente me deixou, no mínimo, feliz.
Nosso comodismo é peculiar talvez à monotonia de nossas rotinas de trabalho, estudo e algum momento de descontração com os amigos, tomando qualquer coisa alcoólica. Nosso dia-a-dia nos exige muito pouco. Nossa cômoda empresa de diplomas é, não mais que um agardável lugar onde encontramos com amigos e com raras pessoas que nos confortam com os defeitos em comum. Nosso local de trabalho, um pequeno espaço de realização parcial da profissão. Não é bem o que gostaríamos de estar fazendo, mas com um bom jogo de cintura driblamos as oito lentas horas que se passam.
É aquela coisa, estamos aí no mundo, fazendo o pequeno possível. Conseguimos discutir qualquer coisa sobre cultura, cinema e música com alguns, um trivial discurso político com outros, uma indignação na maior parte das vezes, tacanha com coisas pequenas... outro dia me deparei com uma destas: alguns alunos queriam "parar tudo" se a direção não resolvesse um impasse de formatura. A questão era que enquanto alguns que pagaram iriam estar sob os holofotes enquanto que outros que não pagaram, mas que se formariam na mesma ocasião, não apareceriam. Tudo bem, cada um com seus problemas, suas prioridades, seus princípios. Mas e a reforma universitária? E os colegas da USP que lutam pela autonomia da universidade. Ah, que bobeira, deixa pra lá. Vamos brigar pelas luzes da formatura.
Eu faço pouco, eu faço pouquíssimo pelas coisas que acredito e defendo. Sem todo o afinco do mundo tento a luta no movimento estudantil que não é feito por aqui, tento também uma discussão mais sólida sobre comunicação e me sinto, regularmente uma ridícula utópica. eu poderia desistir disso tudo. Nada me afeta mesmo. Mas é que me nutre. Preciso sentir isso tudo.
Só queria ter agora, mais tempo na faculdade. Passou tão rápido e só agora as coisas parecem fazer algum sentido. Mas como sempre, é tarde demais.
Tenho a lhe dizer que a idade é prêmio. Os anos de acúmulo, seja lá do que for são presentinhos isngelos da vida. Minha alma pede pra que eu a mantenha com o desejo de uma sexta-feira com amigos sempre vivo. Ela me diz a todo momento para que eu ensine, logo nos primeiros anos ao meu filho, coisas que dele reflitam em mim e não me deixem cair na chatice de ser adulta, de ser velha.
Estamos aí, estamos para a vida muito mais do que ela está para conosco. Mas eu ganho ânimo sabendo que sua poesia pode vir a ser e a fazer revoluções. Porque você sabe, um de meus heróis não empunhou outra arma que não fosse a poesia e a verdade em viver o que achava verdadeiro. Falo do Pablo Neruda, um baita comunista chileno que morreu angustiado pelo desgosto da deposição de um presidente, pela matança de inocentes, enfim... é a poesia a própria revolução, meu caro.

Sem mais, um forte abraço para esquentar este inverno voraz.
Larissa

Um comentário:

Leonardo Silveira Handa disse...

Finco a faca no meu peito esperando que agora escorra o singelo lutar. Fecho os olhos a beira de um buraco repleto de cartazes de protesto que pouco me falam. Mas vejo um pouco a frente e volto a acreditar que essas armas podem ter sentido. A invasão de propriedades nunca foram alvos tão fáceis. Os excluídos apenas não devem se perder para que a briga não se torne apenas um joguete praticável. A baderna não pode ser simples, tem que haver razão. E muito sentimento em vazão. Ser um rebelde sem causa me vira os olhos. Antes bêbado, então, estivesse. De toda a forma, retorno novamente com a faca no peito, agora esperando o escorrer do singelo lutar. Adoro-te em excesso pelas palavras de manifestação. A ação precisa continuar. Uma pena que alguns utilizem os dizeres de ordem como slogans de publicitários, como muitos acadêmicos. Triste.