sexta-feira, 11 de maio de 2007

A solidão de uma nova minoria

O homem é só. Em todo seu contexto social o ser humano – um produto da sociedade – em seus conflitos étnicos, ideológicos e parciais se isola numa dimensão desconhecida até mesmo por seu semelhante mais íntimo. Tudo o que é coletivo, por excelência, isola cada um em suas diferenças, tornando até mesmo aquele que é popular, uma minoria.
As minorias são, historicamente os negros, as mulheres, os pobres, os homossexuais, os índios, os deficientes, comunidades descendentes de imigrantes, membros de comunidades religiosas e ciganos. A globalização e o capitalismo brutais geram uma nova massa solitária e excluída: o indivíduo. As ânsias e tudo o que é reprimido submete o homem a uma situação caótica de opressão, em que tudo ao seu redor o ignora enquanto detentor de pensamentos próprios e conflitantes com os da sociedade.
No espaço onde as relações se fazem a partir de convenções e tradições, a autonomia das ações vive uma ditadura silenciosa. Conforme Octavio Paz, cada indivíduo é único e cada indivíduo é inúmeros indivíduos que ele não conhece. Da mesma forma, toda a coletividade desconhece cada ator de seu processo.
Fechado, sem perceber, o homem convive automaticamente, deixando de lado a intensidade do que quer e transgride sua natureza. As contradições do que é e do que deve ser o fazem só. “O inferno está inteiro na minha solidão”, diz Hugo.
O inferno, por sua vez é mutável ao passo que é particular. Para uns, as leis, para outros, a subversão. As inquietudes da alma são um porão inquisidor, são elementos responsáveis – avaliadas pela sociedade – primordiais ao sufocamento dos anseios humanos.
Mas se Pascal afirma que para si mesmo o indivíduo é um soberbo paradoxo, é possível admitir que o íntimo é o Coliseu de todo o ser.
A primeira opressão é a de si mesmo, enquanto censor – formado pela conjuntura em que está inserido. Todo aquele que é consciente de sua resistência à anulação do “governo pessoal” vive o pisoteamente dos próprios pensamento, que segundo Victor Hugo, são os deuses, monstros e gigantes a quem todo o homem está entregue.

Texto escrito na lanchonete, numa madrugada destas.

Um comentário:

Naiady disse...

Legal...
Mas discordo de que o coletivo isole as pessoas e forme minorias. Pelo contrário, acho que a coletividade justamente inclui as pessoas os indivíduos independentes e só se tornem camaradas.
NA verdade acho que você mesma concorda com isso quando fala da "massa solitária e excluída".

Debate interessante..