terça-feira, 28 de agosto de 2007

Oração da noite

Tive bronquite desde os três meses de idade. O médico diagnosticou ser asmática e me receitou logo, com poucos anos, o Berotec. Meu pai insiste na alérgica e no tratamento homeopático. Quando criança, tossia até provocar vômito, não por querer, pois na época ainda não me condenava. Porém, agora já está na hora.
Conheci todo tipo de simpatia e reza, abacaxi, sebo de carneiro, mel e diabo a quatro. Saquinho de cânfora no peito e muito agasalho no inverno. Evitei sereno e bebida gelada. Não bastou.
Hoje, o cigarro e as taças de vinho, debaixo da lua na janela não são nenhuma forma de morrer tuberculosa ou de cirrose aos 20 ou 24 anos como os poetas que amo. Não passa da celebração da vida e um tanto de esforço para acabar com ela.
Continuo com o Berotec e algum xarope caseiro.
Em cada crise, seja asmática ou alérgica, contemplo a magnitude dos meus erros. As noites de sereno e embriaguês são só um pouco de alegria. O riso destemperado comemora os amigos, o filho que tive e o que não tive, numa ode a todo o crime que cometi em todos os casos.
Não se desgaste em me punir pelos amores vagabundos e tortos que tenho. Não se gaste com preocupações sobre sentimentos nefastos que me habitam. Já faço o suficiente, por mim e por todo o mundo.
Demônios me deixem em paz que eu preciso dormir.
Amém.

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