quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A necessidade do caos que não se deseja

Há algo rompido dentro de mim,
um amor, uma coisa que nunca decifrei ao certo.
Há uma dor e um pedaço sem cor,
uma flor sem pétalas
uma borboleta que fugiu do meu estômago.
Do jeito que era,
um rompimento comigo mesma,
com metade de mim.
Chegou, enfim, o caos indesejado e necessário
a dor que vai me resgatar
a ausência que vai me matar
uma partícula triste de um adeus presente
nos separamos sem sair dos nossos lugares
teu lugar sempre foi dentro de mim mas eu estive sempre
do teu lado de fora
e não demora,
estarei suspensa até do teu quintal bonito.

Ao Barzotto

Abaixo o orgulho
Enfim, seus olhos outra vez.
O perdi no caminho,
aprontei,
sofri sem você, pode acreditar.
O desdenhei,
fiz uma coletânea de todos os seus defeitos -
os que são de fato e os que inventei.
Bradei ódio e orgulho
enquanto sentia falta de como nos compreendemos
de como precisamos apenas nos olhar.
Tive medo do nunca mais você comigo
tantas vezes desviei o olhar – pra você não me entender
e perceber que era só da gente que eu precisava.
Corri da vontade de abraçar você e só aceitei isso,
quando num sono curto nos abraçamos outra vez.
No fundo eu até gosto das suas fúrias,
do seu relaxo com as coisas que eu me preocupo.
Eu só gosto de enxergar você em algum lugar,
saber que está perto,
saber que estamos perto.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Não há solidão na noite, não sempre

Na madrugada ela sentava-se em qualquer lugar que não lhe oferecesse mal estar. Esperava encontrar alguma boa conversa, ao menos alguém que apreciasse o momento como ela. Bebia, sem demora copos de uísque com guaraná. Gelo, nem sempre. Enquanto ficava em silêncio, apenas na companhia de sons distantes, ela mordia os lábios, arrancando a pele que insistia em lhe incomodar. Mariana não gostava da solidão, passou a enfrentá-la quando sentiu-se pior ao lado de alguém do que se estivesse só.
Naquela noite fazia frio. Um vento impiedoso e a sensação térmica que visitava os baixos graus dos termômetros. As mãos de Mariana, congeladas e com uma cor púrpura iam a boca a cada crise de tosse. Estava denunciada na cor das mãos e no peito carregado os problemas respiratórios e de circulação. Sempre lírica, Mariana acreditava que seu sangue pouco percorria suas extremidades por não vir com força do coração. Até aí, biologia. Mas Mariana sabia que de um modo ou outro seu coração estava fraco. Não a ponto de nenhuma tragédia nos hospitais da cidade, mas um sintoma de sofrimento que apenas ela, que só ela sabia sentir.
A menina continuava solitária aos goles e tragadas. Pensava sobre o que lhe haviam dito, em palavras ríspidas e medíocres, vindo deles todos que a repreendiam. A bebida não terminava no copo e Mariana refazia. Duas pedras de gelo, um grande pouco de uísque e o resto de guaraná. Sentia ali, naquela relação íntima com o copo de plástico, uma melancolia de tempos que se foram. Dos carnavais que brincava animada sem se importar com as músicas, das loucuras dos dias de folia que tinha um perfume chamado Natu Nóbilis e do quanto pensava ainda estar salva: “apenas no carnaval”. Mariana não tinha cara nem jeito de boa moça. Boa moça não era, mesmo.
Na cabeça, mil poemas que ao chegar em casa jamais lembraria. O poeta, pelo hábito de bebericar por aí deve ter a mão, facilmente papel e caneta. A sobriedade não lhe serve, mas a amnésia alcoólica acaba com sua arte. Mas Mariana não era poeta nem coisa nenhuma de que pudesse se orgulhar, nem que pudesse orgulhar àqueles que ela mais amava.
Mariana escondia nos minutos do cigarro a sua não vontade de ir embora e no tempo que passava com o copo ainda cheio nas mãos repetia a si mesma: só mais este. E mais este, e mais este, e mais este... Sem final. Ela queria tudo sem fim. O cigarro, o copo, os beijos que já dera, as noites de amor sem amor, a falta de compromisso, a conversa com uma amiga de sempre, a noite. Mariana não suportava o fim de cada coisa porque queria entender tudo naquela noite. Queria escrever um livro com cada gota do uísque, com cada fragmento de fumaça no ar.
Ah, menina levada essa. Sempre pela rua, pelos bares, pelos postos... tinha sede, tinha falta de calor das pessoas. Queria que qualquer vagabundo como ela a encontrasse ali. Paralisada, preguiçosa, satisfeita com apenas aquilo ali. Sempre encontrava alguém. Sempre ia pra casa depois de um tchau e mesmo odiando cada despedida de cada ser na face da terra, ela não era tão só assim.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Para Camila


Ela se chamava então, Poesia.
Menina feita com ares de pureza e de intensidade,
duas características que pouco se cruzam, mas que nela, Poesia,
faz uma rima.
A leio ao longe, sem poder tocar o papel,
sem sentir o cheiro da tinta ou do perfume com o qual foi escrita,
e descobri sem que alguém me dissesse,
seu nome, Poesia.
Uma pintura no rosto,
um rosto na natureza,
um sorriso estranho entre sorrisos que conheço
mas que posso dizer de conhecer?
Poesia é distante, vive longe e eu,
sinceramente não me importo.
Porque ela parece uma sensação,
e isso é a Poesia.
A conheci pelo nome de Poesia.

máscaras

Gosto dos alegres,
mas preciso dos tristes para ser doce.
Preciso também, as vezes, ser triste,
para que me olhem,
com um pouco mais de ternura.

Oração da noite

Tive bronquite desde os três meses de idade. O médico diagnosticou ser asmática e me receitou logo, com poucos anos, o Berotec. Meu pai insiste na alérgica e no tratamento homeopático. Quando criança, tossia até provocar vômito, não por querer, pois na época ainda não me condenava. Porém, agora já está na hora.
Conheci todo tipo de simpatia e reza, abacaxi, sebo de carneiro, mel e diabo a quatro. Saquinho de cânfora no peito e muito agasalho no inverno. Evitei sereno e bebida gelada. Não bastou.
Hoje, o cigarro e as taças de vinho, debaixo da lua na janela não são nenhuma forma de morrer tuberculosa ou de cirrose aos 20 ou 24 anos como os poetas que amo. Não passa da celebração da vida e um tanto de esforço para acabar com ela.
Continuo com o Berotec e algum xarope caseiro.
Em cada crise, seja asmática ou alérgica, contemplo a magnitude dos meus erros. As noites de sereno e embriaguês são só um pouco de alegria. O riso destemperado comemora os amigos, o filho que tive e o que não tive, numa ode a todo o crime que cometi em todos os casos.
Não se desgaste em me punir pelos amores vagabundos e tortos que tenho. Não se gaste com preocupações sobre sentimentos nefastos que me habitam. Já faço o suficiente, por mim e por todo o mundo.
Demônios me deixem em paz que eu preciso dormir.
Amém.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Provocação

"Estou cansada da minha própria hipocrisia. Até então, me cansava apenas da podridão da sociedade. Mas eu sou sociedade. A podridão está em mim. Estou cansada de me decepcionar com pessoas, que de ilustres passam a ser tremendos bundões. Pura entrega a corrupção de si mesmo. Tenho feito diversas CPI´s da Larissa. Faço minhas próprias acareações. Corrupta de mim mesma. Corruptora dos meus ideais e dos meus desejos mais profundos. Adepta ao mais fácil, por isso, o mais medíocre.Neruda disse um dia que estava memso cansada de ser homem. Eu só estou cansada de ser gente. Gente igual a todas as gentes. Gente urubu num dia e gente carniça no outro.Detesto odiar as pessoas que mais amo pelo simples fato de eu colocar a culpa das minhas amarras nelas. E o faço com tal veracidade que acredito nessa culpa mesmo sabendo que sou meu próprio cárcere.Eu tenho vergonha de causar vegonha nas pessoas e morro de pena que estas pessoas tenham vergonha de mim.Estou no fim da minha exaustão. Blehh"
Algo que escrevi, lá por novembro de 2006, entediada como hoje.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Do que me falta


Fossas e dores são, no mínimo interessantes.
Porque são profundas,
têm a essência daquilo que me faz falta
em noites insones de embriaguês e riso.
E são como espelhos, talvez.
Estes que nem você, nem eu gostamos,
destes que desviamos no banheiro da balada ou em casa,
antes de sair e até dos vidros espelhados das vitrines nas ruas.
Mas eles são necessários e eles existem, mais do que isso.
E a gente existe e se reflete neles e chega uma hora,
em que nos trancam o caminho para que nos deparemos,
sem escapatória da nossa imagem,
gorda ou magra,
feia ou bonita,
suja ou limpa,
atraente ou imbecil.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Confusão

Há um tempo, pouco tempo, as coisas parecem ser diferentes. Um sentimento que na verdade é tão intenso como o vermelho dos cabelos da menina-mulher. Acabou o sofrimento do inverno e o verão até parece ter se adiantado em tardes de sábado e domingo, final de semana que passou lento, com horas eternas de uma viagem surreal por dentro das pessoas.
É só no riso que a dor se manifesta e essa contradição é tão difícil de entender como frases extensas e tudo no vazio é tão perturbador como as vozes que me rodeiam e as vezes, eu não entendo nada. Eu gosto de sentir que somos iguais, que não há vergonha nos bolsos, assim como não há dinheiro. Perdeu-se a noção, a direção, o cartão de crédito e a sanidade. Mas ergue-se então um monumental estado de satisfação e desdém.
Não é desaforo, é apenas transgressão. Fazer tudo aquilo que é errado para todo o mundo mundial. Transgredir é ser ilegal, romântico, imoral, desinteressado. O mau gosto é o gosto que tem na minha boca. Gosto do feio porque se trata apenas de um conceito invisível, uma coisa bem mais complexa que pensar em como o feio se torna belo e como o belo de todos me irrita.
Realmente eu não sei o que eu quero. E me chamam confusa porque busco saciar minha carência em braços grandes, em braços pequenos e naquilo que é fútil, meio animal, meio selvagem e também naquilo que é sensível, que é emotivo e é o que mais machuca. Sensíveis são cruéis, sempre.
Quase tudo que merece punição eu já fiz. Crimes e mais crimes. Falta muito pouco pra não haver nada que eu não tenha feito. E se eu já não sei o porquê estou nesta última linha de texto, isso é normal, é real, é natural.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

E se essa paz precisa de guerra,
minhas armas estão postas à mesa,
meus pratos estão postos à pobreza.
Meus braços dispostos a você,
minha farda ao lado do colchão.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Noites

A lua se despede,
sem mais cervejas, cigarros ou beijos
ela vai embora,
porque passou da hora,
e ficam a espera do sol, os bêbados prateados.
Um sol que invade a memória falha,
a cabeça pesada,
algum sofrimento que ficou.
E a hora de recomeçar,
com sobriedade,
a duras penas pensar, agir e sorrir.
Da noite, apenas sobrou um resto na garrafa,
o cheiro de lua que sai pelos poros,
a água que fica na boca
do beijo que se quis.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Precisão


Eu não quero me despedir da tua manha,

da tua farsa,

da tua caixinha de risos.

Não quero me desprender dos teus dedos,

das tuas mãos,

da tua teia de falsas emoções.

Mas eu preciso te deixar, ou, deixo de mim.

Eu preciso não mais te sufocar, vou me sufocar só.

Eu devo entender, me convencer,

me matar, sei lá.

E eu devo, muito mais do que quero,

tirar esse teu cheiro de tudo.