quinta-feira, 29 de novembro de 2007

abandono

Digo que não pense em mim, que não me procure,
que me deixe tentar fechar essa ferida que já se abriu.
Mas eu perco pra mim mesma.
Eu ligo, eu penso desesperadamente,
eu lambo essa ferida como se fosse a única dor de infinito prazer.
Porque a dor se chama você.
É uma dor de cabelos negros,
é uma dor cujo corpo já foi meu na intensa entrega do sentimento.
A dor que eu tenho tem dois dedos do pé, grudadinhos
e gargalha bem alto quando eu faço piadas sem graça.
Minha angústia é você.
É você o anjo que esqueceu de ser puro,
que desceu pra cá com desejo e sentimento
e capacidade de sentir na carne que os anjos não têm,
essa dor também,
a nossa dor.
E eu te entendo, mas te quero.
O querer tira a sua razão em me deixar,
o querer me faz ter medo e lhe deixar.
Mas eu lhe quis desde que seu corpo me apareceu crescido
e desde que você me apareceu ouvindo Chico,
não tenho pernas para sair de nós.

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