segunda-feira, 24 de maio de 2010

18h

São seis da tarde. No inverno, os carros já ligam os faróis mas ainda não é noite e nem é mais dia também. É a hora do crepúsculo cujas dores que causa já foram tão escritas por Neruda e tão vividas por milhares de solitários.

Nas padarias casais na fila do pão. A mãe que apanha o filho na escola. Um amigo que encontra o outro na porta do trabalho para um chopp. A família que vai se encontrando em casa aos poucos. Chega um, depois outro, depois outro e é a hora da fila pro banho e depois pijamas quentes, café com mistura e novela.

Para quem é sozinho não tem nada disso. Os solitários pedem a Deus que não chegue às seis, que não venha o escuro sutil anunciando que não há ninguém, exceto um raro vizinho nas escadas do prédio, para quem se possa dar “olá”. Quase nula é a possibilidade de dar “boa noite” antes de dormir.

O solitário sai do trabalho, vai remoendo uma raiva do mundo por todo o caminho de casa. Chega e não vê razão alguma em tomar banho naquele instante porque não há ninguém no sofá esperando pelo cheiro de banho, então, fica para mais tarde. Quando já não há mais o que fazer na frente da TV, vai para o banho e demora. Depois disso o vazio é maior ainda. Aí dorme e quando acorda pede a Deus outra vez que não chegue nunca às seis.

2 comentários:

Rafa disse...

Peerfeito Lari ! :D

Anônimo disse...

juro por Deus que eu não queria ser grande parte culpada por está solidão