quarta-feira, 5 de maio de 2010

Da porta

Fazia tempo que eu não chorava tão ternamente na frente dela. Fiz porque senti que seria a última vez. Acabou, não porque foi ruim, mas porque foi bom demais. Dá pra entender? Sei lá. Dizem que tudo tem um fim. O fim de alguma coisa é como a morte, estamos cansados de saber que isso é eminente e natural, mas nunca aceitamos.

Mesmo quando o fio já estava arrebentando nós nos agarramos, isto é verdade. Quando começamos eu segurava bem mais que ela a corda ainda grossa, isto também é verdade. Dói mais por causa disso. Porque eu consegui fazê-la segurar comigo não só a corda, mas a barra, o mundo, a vida. Seguramos juntas, e muito forte por algum tempo. Foi bonito e foi novo para mim ter alguém que ficasse tão ao meu lado e muito mais que isso, porque eu fiquei muito ao lado dela como não havia nunca ficado ao lado de alguém.

O fio arrebentou, eu acho. Diferente do que era no começo, talvez arrebentou porque as duas estavam segurando com força demais. Então depois da mágoa colocada para fora tantas vezes eu sabia que precisava deixar a minha ternura voltar. Disse a ela para não ter medo de amar, para se deixar ser amada mais rápido do que se deixou ser amada por mim porque qualquer segundo sem amor é tempo perdido para sempre. Certifiquei ela de que se alguém um dia perguntar se ela já fez alguém feliz, que ela diga com firmeza que sim. Se algum dia ela transformou uma casa em um lar? Ah, e como! E eu, se for perguntada sobre já ter vivido em um lar verdadeiro, responderei que sim e que foi ao lado dela.

Nessa noite, depois de um abraço amigo, depois de tantas vezes que ao virar as costas e olhar para trás, encontrar apenas o vazio, depois de tantas vezes desejar que ela estivesse ainda na porta me olhando com dúvida se me deixava ir ou não, na noite em que arrebentou o fio ela estava na porta e ficou por bastante tempo até que ficasse longe o bastante para não enxergarmos nossos olhos molhados. Ela sempre me disse que no final tudo daria certo se fosse mesmo o final.

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