terça-feira, 29 de junho de 2010

Lacuna

Desde pequena ganhei o rótulo de ser sonhadora. O que parecia bonito foi tornando-se ao longo do tempo um peso que me custou orientações constantes de que eu deveria viver com os pés no chão, não me iludir, não me deixar levar, não confiar. É fato que algumas coisas eu aprendi e fiquei até rude demais. Sei que um chefe nunca vai me abraçar como se fosse meu pai porque de fato nunca o será, sei também que as pessoas nas ruas, em sua maioria não me olham como amigos e amigas porque possivelmente nunca o serão. Mas da pessoa que a vida me escolheu para ser o amor, o meu amor, desta não admito desconfiar ou não me entregar.
Há alguns dias ou meses talvez, quem sabe desde sempre noto uma distância quase que interminável entre a gente. Aquela coisa triste de estar ao lado e ainda assim uma solidão monstruosa pesar como uma nuvem de fumaça preta, escurecendo e esfriando tudo. Nem eu mesmo sei como mas eu acredito que ela gosta de mim, que me tem apreço e que certamente sentiria a minha a minha falta de eu enfim decidisse desaparecer. E apesar de acreditar nisso eu vejo um imenso espaço entre nós.
Sei, não só pelo que imagino mas pelos seus olhos e seu silêncio quando menciono, que não me deseja. Deseja talvez a textura da minha mão no seu corpo, mas jamais sente calafrios só por me olhar talvez com uma roupa diferente. Se lhe falo no ouvido qualquer coisa sobre sua beleza ou sobre o nosso amor e finalizo com uma mordiscada na orelha, o arrepio que sente não é aquele de se sentir enfraquecida, mas irrita-se.
Entre nós tudo é muito banal. Confesso, muitas coisas íntimas às quais nos acostumamos conviver são agradáveis, me fazem bem. Mas em detrimento disso apagou-se, se é que um dia esteve acesa, a fagulha mágica do encantamento e da surpresa. Já não temos uma música só nossa e com certeza veríamos de maneira ridícula um botão de rosa em cima da cama com um bilhete.
“Eu te amo”, nos dizemos diariamente. Talvez, várias vezes em cada dia e hoje mal sabemos que teor tem essa frase. É como dizermos uma para a outra: “que calor” “que frio”. Não nos alegra mais, não nos espanta, não é mais novidade que nos amamos. Já nos amamos pesadamente como se ama um casal frustrado aos 20 anos matrimoniais e isso é mais terrível porque nos conhecemos há apenas dois. São 730 dias.
Não há beijo ou cristo que a desconcentre da TV, seja lá o que estiver passando. Ela sempre para de beijar primeiro e é raro que feche bem os olhos. Sei que esse desabafo encantará algumas pessoas de maneira que verão limpidamente minha alma. A ela apenas será quase que um insulto, uma ofensa, uma injustiça sem que pare para pensar em como estou sendo verdadeira, fraca e no fundo uma apaixonada, mesmo que sem um objeto real de paixão.

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