quarta-feira, 22 de julho de 2009

A rotina é a guilhotina do amor

Muito prazer em “desconhecê-la”. Jamais havia passado por tal experiência antes, em toda a convivência que tive na vida com as mais diversas pessoas. Nunca pensei que saísse do papel a força de vontade em recomeçar, recomeçar de verdade, com respeito, com magia...
Ah, com todo respeito, se falo em recomeço não é pedindo-lhe fidelidade, porque não é a mim que deve tal virtude, mas à ti mesmo, mas falo de sustentar até onde minha força agüentar e o fio da esperança não arrebentar, o sentimento sublime que habita meu coração tão novo e já cansado das estripulias da vida.
Nunca pensei olhar com tal curiosidade e tocar com tal receio, um ser que por meses e meses parecia uma parte de mim. Não imaginei nunca esperar um telefonema, um gesto de carinho, um cruzar na rua, uma coincidência com tal ansiedade, de quem por certo, há alguns dias tinha isso como obrigação mútua.
A rotina é a guilhotina do amor.
A partir do momento em que o ritual passa a ser mais que eventual, uma estrutura pesada e enferrujada, com lâminas afiadas, decepa a naturalidade dos sentimentos. Se todos os dias, a tal hora sei que tenho de beijar alguém, então não haverá nunca surpresa algum no beijo e um beijo sem surpresa é seco, frio e sem sabor.
Se já não me pego olhando-te quando estás distraída, sugiro que fiquemos sem nos ver por algum tempo para que meu olhar volte a necessitar da tua fisionomia e saiba se contentar com a tristeza ou a alegria dos teus olhos.
Se eu passar a me importar mais com os teus desejos por outras pessoas do que entender teu desejo por mim, então eu mereço dias de solidão, porque afinal, se desenvolvi o mínimo de inteligência, devo perceber que a liberdade, assim como cabe a mim, deve servir a ti com a mesma intensidade e que se desejas, com a tua alma, outros braços ou outra companhia, é direito teu que desfrutes.
O mistério que vejo em volta de ti faz com que eu pense agora, até que ponto me ensinastes tudo isto com ou sem pretensão.
Confesso... é doloroso o caminho para aprender o amor. Não nego que preciso abandonar um pouco de mim para permanecer em ti, e que não exijo que te abandones para se manter em mim porque em toda a história sempre foi assim: o ser que ama e o ser amado. Não está errado, não é pecado nem é injusto, é pura e simplesmente a fórmula do amor: meio doce, meio amarga.
Despeço-me, ilustre desconhecida, com um beijo no rosto – este que desfaz o que acabara de acontecer com tamanha intensidade e que inicia a expectativa por aquilo que está por vir, não se sabe quando, não sabe como, não se sabe onde, mas que por fé, acredito, de tempos em tempos precisará matar tua sede e fome em mim.