segunda-feira, 24 de maio de 2010

18h

São seis da tarde. No inverno, os carros já ligam os faróis mas ainda não é noite e nem é mais dia também. É a hora do crepúsculo cujas dores que causa já foram tão escritas por Neruda e tão vividas por milhares de solitários.

Nas padarias casais na fila do pão. A mãe que apanha o filho na escola. Um amigo que encontra o outro na porta do trabalho para um chopp. A família que vai se encontrando em casa aos poucos. Chega um, depois outro, depois outro e é a hora da fila pro banho e depois pijamas quentes, café com mistura e novela.

Para quem é sozinho não tem nada disso. Os solitários pedem a Deus que não chegue às seis, que não venha o escuro sutil anunciando que não há ninguém, exceto um raro vizinho nas escadas do prédio, para quem se possa dar “olá”. Quase nula é a possibilidade de dar “boa noite” antes de dormir.

O solitário sai do trabalho, vai remoendo uma raiva do mundo por todo o caminho de casa. Chega e não vê razão alguma em tomar banho naquele instante porque não há ninguém no sofá esperando pelo cheiro de banho, então, fica para mais tarde. Quando já não há mais o que fazer na frente da TV, vai para o banho e demora. Depois disso o vazio é maior ainda. Aí dorme e quando acorda pede a Deus outra vez que não chegue nunca às seis.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Amor maduro, amor sem futuro

“Se eu tivesse sido madura, talvez nada disso tivesse acontecido”, ouvi de uma amiga que teve o fim do namoro decretado com a estupenda desculpa de: “Não gosto mais de você”. Recentemente também uma amiga minha resolveu mudar a vida completamente e pôs fim a um relacionamento de quase sete anos. Eu que até o final do dia estava casada, não de papel passado, mas de coração seguro, em minutos tornei-me novamente a garota sozinha no apartamento silencioso e vazio.

O que o amor entende por maturidade? Me pergunto enraivecida: o que o amor quer de mim? Ser maduro é ser frio e não se entregar? O que nos leva ao melhor lado da história é uma postura bruta e indiferente com uma falsa auto-suficiência que não serve para absolutamente nada?

Você sai e em qualquer lugar vê pessoas aflitas, com olhar atento em busca de algo, de alguém que as faça respirar mais fundo, que tome conta, que invada o pensamento, que torne vontades em necessidades, que transforme o querer em um vício incontrolável. Você percebe a solidão naqueles que querem colocar tudo para fora e misturar, se alimentar daquilo que veio de dentro da outra pessoa. Você se dá conta de como é importante ter alguém.

E eu não sei o que está acontecendo porque há milhares de olhares aflitos também tentando se desfazer do amor. São os maduros, os que esquecem, os que não ligam, os que não se incomodam com o silêncio do telefone. São aqueles que batem no peito e enchem a boca para dizer: “não amo mais você” “tenho um carinho enorme por você mas já não te amo mais” “eu quero minha liberdade volta” “quando estou longe eu já não sinto sua falta, acho que não gosto mais de você” “o problema não é você, sou eu” “acho que podemos ter uma amizade, não quero ficar sem saber de você e até podemos ficar, mas não quero compromisso” “estou numa outra fase da minha vida”.

Se isso tudo, essa falta de apego ao raro é sinal de amadurecimento então serei para sempre infantil, mas nunca serei hipócrita. Tudo ou nada. Quero amor, quero falta de ar e palpitação. Quero frio na barriga, romantismo e flores. Quero morar junto, brigar por quem vai levantar apagar a luz, dizer: “nossa casa, nossa cozinha, nosso banheiro, nosso quarto”. Eu quero morrer de amor e só essa condição me importa, outra não.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Hoje abro espaço para uma pessoa muito especial, sensível e amiga. Chegou no meu porto na hora certa, do jeito certo.


Por Rafaela Davidones


Enquanto a chuva cai lá fora

Estou aqui, mergulhada em linhas que somem com o descer da escrita

Relembrando tudo que fizemos

As alegrias que tivemos e juras de amor eterno que fizemos

Sentindo o gosto do primeiro beijo e a suavidade do toque dos teus lábios

Amor, porque se foi assim, tão covarde

Deixando a mim uma vida que não pode ser vivida

Escondida por de trás dessas palavras negativas que insiste em dizer

Enquanto teus olhos confirmar todo o resto

Os nossos lábios pedem um ao outro, completam-se por essência.

Volta paixão cruel

Devolva-me tudo que levou ao partir

Traz de volta o meu sorriso do teu eu te amo

Permita-me sentir uma vez mais a adrenalina que o teu olhar despeja sobre mim

É o pele na pele, brilho no olhar e coração pulsante que insiste em não parar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Da porta

Fazia tempo que eu não chorava tão ternamente na frente dela. Fiz porque senti que seria a última vez. Acabou, não porque foi ruim, mas porque foi bom demais. Dá pra entender? Sei lá. Dizem que tudo tem um fim. O fim de alguma coisa é como a morte, estamos cansados de saber que isso é eminente e natural, mas nunca aceitamos.

Mesmo quando o fio já estava arrebentando nós nos agarramos, isto é verdade. Quando começamos eu segurava bem mais que ela a corda ainda grossa, isto também é verdade. Dói mais por causa disso. Porque eu consegui fazê-la segurar comigo não só a corda, mas a barra, o mundo, a vida. Seguramos juntas, e muito forte por algum tempo. Foi bonito e foi novo para mim ter alguém que ficasse tão ao meu lado e muito mais que isso, porque eu fiquei muito ao lado dela como não havia nunca ficado ao lado de alguém.

O fio arrebentou, eu acho. Diferente do que era no começo, talvez arrebentou porque as duas estavam segurando com força demais. Então depois da mágoa colocada para fora tantas vezes eu sabia que precisava deixar a minha ternura voltar. Disse a ela para não ter medo de amar, para se deixar ser amada mais rápido do que se deixou ser amada por mim porque qualquer segundo sem amor é tempo perdido para sempre. Certifiquei ela de que se alguém um dia perguntar se ela já fez alguém feliz, que ela diga com firmeza que sim. Se algum dia ela transformou uma casa em um lar? Ah, e como! E eu, se for perguntada sobre já ter vivido em um lar verdadeiro, responderei que sim e que foi ao lado dela.

Nessa noite, depois de um abraço amigo, depois de tantas vezes que ao virar as costas e olhar para trás, encontrar apenas o vazio, depois de tantas vezes desejar que ela estivesse ainda na porta me olhando com dúvida se me deixava ir ou não, na noite em que arrebentou o fio ela estava na porta e ficou por bastante tempo até que ficasse longe o bastante para não enxergarmos nossos olhos molhados. Ela sempre me disse que no final tudo daria certo se fosse mesmo o final.

domingo, 2 de maio de 2010

Não amo mais. Eu acho.

Quando a gente sente todas aquelas coisas por uma pessoa, sabemos que estamos amando. Saber que ama é fácil, rápido e delicioso, especialmente se é recíproco. Já aconteceu comigo. Agora, como é que se sabe quando não ama mais? Nunca tinha acontecido comigo.

Eu vivi centenas de paixões (contando as platônicas e até por Leonardo di Caprio na adolescência) e sei lá, dezenas de amores. Eu nunca me poupei ou tive vergonha muito menos medo de amar. Amei até quando e quem não podia. Tenho amigas que eram controladas, racionais e bem autoconfiantes.Eu sempre precisei entender claramente que era amada e foi sempre nesse ponto que deixei de amar. Mas eu sabia que não amava mais e chegava a duvidar que um dia tivesse amado. Tinha certeza: não amo mais e ponto.

Apesar de nunca ter sido a menininhagostosade corpoperfeitosupernamodacabeloimpecáveleelegância, eu pude ignorar muitas ligações, não responder mensagens apaixonadas e ouvir elogios até de coisas que eu não posso escrever aqui. Sempre contei pura e simplesmente com um belo sorriso. Só.

Hoje, mulher, continuo não sendo gostosade corpoperfeitosupernamodacabeloimpecáveleelegância, mas ainda com o sorriso cativante, como me disseram ontem. Mas agora com uma nova aventura: eu não sei se ainda amo. Aquela certeza de “não amo mais você” me abandonou e eu até sofro de gagueira ao pronunciar essa frase.

Uma vida conjugal acabou e eu odiei, depois disso como dominós caindo um a um, acabou o relacionamento e eu não estou odiando tanto assim, mas com pouca certeza. Talvez tenha sito o tempo, bem maior que outras relações em que eu tinha certeza de não amar mais. Talvez a intensidade, talvez a pessoa ou talvez tenha sido amor de verdade e não passe nunca. Mas pode ser que tenha acabado mesmo o amor. A única certeza que tenho é que foi amor, esse foi, mesmo que não seja mais.